quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Aos moldes da Misteriosa Arqueologia Pública...


Olá pessoal,

Quero hoje dividir com vocês um trabalho que participei de Arqueologia Pública feito no Colégio Aplicação em São Cristóvão, SE. A ideia desse post não é só informar do trabalho que participei, caso fosse queridos não seria Para Arkeólogos, minha intenção é dividir com vocês como se deu esse trabalho, para que vocês possam ter uma base de trabalhos dessa natureza; quem contatar e principalmente espalhar a palavra. Então antes de tudo vamos começar pela história.

Há essa colega/vizinha/amiga/orientadora/... chamada Fernanda Simões que é do Mestrado de Arqueologia aqui em Sergipe. E ela convidou a mim e minha mulher (que também estuda Arqueologia) para participar de um trabalho de Arqueologia Pública realizado pelo Museu de Arqueologia de Xingó (MAX). O trabalho seria o seguinte: nós iriamos ao colégio acima citado e faríamos uma apresentação sobre o que é Arqueologia, suas áreas (ao menos aqueles que achamos de maior relevância) e falamos em especial sobre pré-história, já que esse é um tema de interesse, e que normalmente há uma defasagem no ensino e que nós como arqueólogos dominamos este assunto um pouco melhor que por exemplo um professor de história em sua maioria (estou generalizando aqui).


A IDEIA

Antes de realizar a apresentação debatemos sobre como seria esta. Primeiramente Fernanda já havia realizado ações educativas antes com Luiz Felipe Freire, outro ex-aluno aqui de Sergipe em seu grupo de Arqueologia Pública da faculdade, e já tinha um material pronto. Discutimos a faixa etária em questão seria o sexto ano (antiga quinta série) o que era ideal por que no primeiro semestre eles começam antes de adentrar na história a estudar pré-história. O ideal era falar com eles com uma linguagem um pouco mais científica e por tanto mais madura, porém sem perder a irreverência caso contrário perderíamos o publico também. Outra coisa que ficou clara é que ao nos referirmos aos grupos indígenas usamos o termo “nossos ancestrais” (ex: nossos ancestrais indígenas é que produziram essas maravilhas que vocês estão vendo.) numa demonstração clara da valorização destes e de grupos presentes na nossa sociedade. Creio que acima de tudo nosso ideal era desmistificar várias ideias, ou melhor, esclarecer o que é, do que se trabalha, como vive o arqueólogo e assuntos relacionados a Arqueologia e pré-história.



Foto Cortesia do MAX.

O MATERIAL E AS IMPRESSÕES

Como era esse material?
Bom... Ele começa com uma pergunta: O que é Arqueologia? A ideia era fazer a criançada pensar um pouco e claro vinham respostas como dinossauros, aventuras, que cercam o imaginário de várias pessoas. E para nossa surpresa algumas poucas sabiam o que era e conseguiram colocar isso de forma bem clara em especial uma menina de óculos brancos a nossa direita. Dai mostramos algumas figuras que continham diversos aspectos clichés sobre nossa profissão personagens de filmes, games, animação, dinossauros etc. Seguida da seguinte frase “Isto não é Arqueologia” partindo para explicar o que é Arqueologia. Deixar claro que eles eram ótimos a reação deles era muito boa. Era como se finalmente algumas das coisas que estavam sendo ensinadas em aula fizessem sentido a partir deste ponto.

Começamos a falar como trabalha o arqueólogo, onde trabalha. Falamos também sobre a divisão de pré-história e história aqui no Brasil a partir de uma perspectiva mais clássica do assunto. E sobre Arqueologia Brasileira. Das diversas áreas da Arqueologia como; Arqueologia Pré-Histórica, Histórica, Ambientes Aquáticos (grande interesse em como se escreve em baixo d'água), da Arquitetura, Bioarqueologia (falamos de Luzia o que intrigou muito a eles), Arte Rupestre e Sambaqui. Depois passamos a mostrar sobre trabalhos realizado em Sergipe numa ideia de reconhecimento de como tudo o que eles estão vendo na apresentação também acontece onde eles moram.

No final Fernanda lascou uma “pedra” na frente deles e mostramos alguns líticos produzidos numa oficina de líticos realizada em Laranjeiras no intuito de mostrar algo mais prático para eles.

Foto Cortesia MAX

APRESENTAÇÃO E MAIS IDEIAS

Tudo na apresentação tinha como foco interessar, estimular e principalmente desmistificar algumas visões que as pessoas tem sobre Arqueologia e Sociedade sem necessariamente falarmos disso. Então a linguagem tinha que ser apropriada, não podia ser algo chato nem com cara de “Blues Clues ou Teletubbies”. Afinal o publico é infantojuvenil então todo cuidado é pouco. Tudo foi bem dinâmico e tudo que perguntávamos eles responderam. Também exploramos muitos exemplos visuais na apresentação pouco texto até para explicar alguma coisa usamos muito “vamos imaginar...” para que tudo ficasse bem claro e não houvesse sombra de dúvidas a eles.

A M.I.S.S.Ã.O.

O post está aqui para poder trocar uma ideia com vocês, mas principalmente demonstrar como que com boa vontade e recursos quase zero qualquer aluno ou grupo de alunos, profissionais, podem fazer um trabalho desses, só é necessário boa vontade e um pouco de “cara de pau”. Lembrem-se que, se nós nos incomodamos com certas visões que as pessoas tem sobre a Arqueologia é responsabilidade nossa educar a população sobre o assunto. Somente a partir de medidas educativas, principalmente as que mexem com a base é que mudaremos certas perspectivas e panoramas aqui no Brasil. Não podemos deixar esse papel único e exclusivamente para as mídias de grandes massas que em sua parte muitas vezes também não entende muito sobre o assunto.

Ao afinal tivemos uma reunião com Geovânia Carvalho a coordenadora da parte pedagógica do MAX e fomos convidados para o nosso próximo desafio. Fazer uma feira sobre Arqueologia em um Colégio Público. Assim que acontecer postarei está experiência para que vocês possam tentar realizar com o seu grupo. E por favor se você tiver alguma ideia crítica ou quiser dividir alguma experiência com a gente nos escreva para paraarkeologos@gmail.com




Algumas palavras sobre Arqueologia Publica e sua importância por Fernanda Simões.

Cortesia Fernanda Simões.

Agradeço o espaço fornecido pelo Thobias e inicio minha fala declarando que não acompanho as discussões acadêmicas recentes sobre Arqueologia Pública e como não venho de uma formação em licenciatura meus comentários podem soar desatualizados para os entusiastas desse viés da Academia. Entretanto, minha contribuição vem dos trabalhos práticos que realizei através do Grupo de Arqueologia Pública (criado por alunos da UFS em 2011) e na Ação Educativa do MAX, nesse episódio específico.

Para entender as problemáticas que envolvem a realização de uma Arqueologia Pública é necessário relembrar o contexto das exigências que o Governo faz aos Arqueólogos, onde a Portaria 007/88 exige que utilizemos o material produzido de uma pesquisa arqueológica para “fins científicos, culturais e educacionais”. Alguns arqueólogos que trabalham com o licenciamento ambiental devem seguir as normas do IPHAN e realizam pequenas atividades de Educação Patrimonial em diferentes grupos (escolas, associação de moradores, sindicatos, igrejas, etc.). Essas atividades de Educação Patrimonial são resumidas em palestras curtas e pontuais, com o único objetivo de atender as exigências legais.

Nesse ponto vemos a diferença da Arqueologia Pública e da Educação Patrimonial realizada no Brasil. A Educação Patrimonial realizada em contextos de Arqueologia Preventiva tende a ser pontual, curta, superficial, imposta e surda. Alguns pesquisadores até questionam o uso do termo “educação” para as atividades ligadas a Arqueologia, pois remete a uma relação entre um indivíduo que detém o conhecimento e outro indivíduo que não o possui.

Ao lidar com Patrimônio Cultural, assumir que qualquer grupo tenha conhecimento nulo sobre a temática é absurdo! É a mesma coisa que dizer que uma pessoa de fora saberá mais sobre uma determinada região do que os próprios moradores, ou seja, podemos considerar essa abordagem como colonialista.

Então, a pesquisa de um arqueólogo não tem validade, já que o morador de uma área sabe mais sobre ela do que o pesquisador de fora? Não é isso, nem 8 nem 80! Os arqueólogos estudaram para interpretar as sociedades através da cultura material em diferentes contextos e as pessoas que estão inseridas nesses contextos possuem muito conhecimento que virá a construir essa interpretação. Cabe ao arqueólogo ser o responsável por selecionar os discursos para a interpretação do contexto. Assume então a perspectiva de mediador e não de professor.

A Arqueologia Pública traz sua contribuição em atividades expansivas, questionadoras, reflexivas, sustentáveis, etc. O principal ponto está em dialogar com os discursos produzidos por determinado grupo na construção interpretativa.
Para realizar um trabalho de Arqueologia Pública é necessário estabelecer os meios de comunicação entre o pesquisador e a comunidade. Esses meios de comunicação são extremamente variados, podendo ir desde inclusão de pessoas da comunidade nas atividades realizadas, entrevistas, etc. Nesse caso específico, a Ação Educativa proposta pelo MAX surge como etapa inicial para realizar uma Arqueologia Pública, onde toda a Ação foi orientada pelo feedback dos alunos de acordo com os inúmeros questionamentos que recebiam.

As atividades realizadas no Colégio Aplicação basearam-se principalmente em duas propostas: (1) entender que o conhecimento que o público-alvo já possui é válido e necessário; (2) refletir sobre os preconceitos associados a Arqueologia e a Pré-história.
Os preconceitos foram trabalhados por toda a ação, desde a diferenciação entre Arqueologia e Paleontologia até uma discussão sobre “quem confeccionava as ferramentas de pedra na pré-história, homens ou mulheres?” A resposta foi quase unânime: Homens.

Essa resposta veio acompanhada de muita surpresa ao me presenciarem retirar uma lasca de sílex no momento. Aos leitores que não sabiam disso, eu declaro: Sim, mulheres também podem fazer ferramentas líticas! Ao fundo passávamos um vídeo com colegas da UFS realizando lascamento experimental (as pessoas no vídeo eram Virgílio Júnior, Íris Marques, Fábio Telles, Pedro Leonardo Almeida, Luis Felipe Freire e eu).
Como as ações educativas do MAX correspondem a uma nova proposta de se trabalhar Arqueologia e Sociedade, realizamos o primeiro passo ao estabelecer uma linguagem comum entre arqueólogos e público-alvo. Esse primeiro passo será disseminado entre diferentes públicos e então partiremos para a etapa seguinte: a organização de uma feira de Arqueologia.

Contamos com a sugestão de todos nessa nova empreitada.

Fernanda Simões.

FIM

Obrigado você Fernanda. Acho que mesmo não acompanhando tais discussões creio que qualquer um pode concordar com muito do que foi dito. Então gente espero que tenham gostando de mais essa. Parabéns Fernanda pelo excelente trabalho saiba que aqui no Para Arkeólogos você sempre tem espaço garantido.

Valeu galera! Agora mãos a obra.

Para Arkeólogos


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