quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Aos moldes da Misteriosa Arqueologia Pública...


Olá pessoal,

Quero hoje dividir com vocês um trabalho que participei de Arqueologia Pública feito no Colégio Aplicação em São Cristóvão, SE. A ideia desse post não é só informar do trabalho que participei, caso fosse queridos não seria Para Arkeólogos, minha intenção é dividir com vocês como se deu esse trabalho, para que vocês possam ter uma base de trabalhos dessa natureza; quem contatar e principalmente espalhar a palavra. Então antes de tudo vamos começar pela história.

Há essa colega/vizinha/amiga/orientadora/... chamada Fernanda Simões que é do Mestrado de Arqueologia aqui em Sergipe. E ela convidou a mim e minha mulher (que também estuda Arqueologia) para participar de um trabalho de Arqueologia Pública realizado pelo Museu de Arqueologia de Xingó (MAX). O trabalho seria o seguinte: nós iriamos ao colégio acima citado e faríamos uma apresentação sobre o que é Arqueologia, suas áreas (ao menos aqueles que achamos de maior relevância) e falamos em especial sobre pré-história, já que esse é um tema de interesse, e que normalmente há uma defasagem no ensino e que nós como arqueólogos dominamos este assunto um pouco melhor que por exemplo um professor de história em sua maioria (estou generalizando aqui).


A IDEIA

Antes de realizar a apresentação debatemos sobre como seria esta. Primeiramente Fernanda já havia realizado ações educativas antes com Luiz Felipe Freire, outro ex-aluno aqui de Sergipe em seu grupo de Arqueologia Pública da faculdade, e já tinha um material pronto. Discutimos a faixa etária em questão seria o sexto ano (antiga quinta série) o que era ideal por que no primeiro semestre eles começam antes de adentrar na história a estudar pré-história. O ideal era falar com eles com uma linguagem um pouco mais científica e por tanto mais madura, porém sem perder a irreverência caso contrário perderíamos o publico também. Outra coisa que ficou clara é que ao nos referirmos aos grupos indígenas usamos o termo “nossos ancestrais” (ex: nossos ancestrais indígenas é que produziram essas maravilhas que vocês estão vendo.) numa demonstração clara da valorização destes e de grupos presentes na nossa sociedade. Creio que acima de tudo nosso ideal era desmistificar várias ideias, ou melhor, esclarecer o que é, do que se trabalha, como vive o arqueólogo e assuntos relacionados a Arqueologia e pré-história.



Foto Cortesia do MAX.

O MATERIAL E AS IMPRESSÕES

Como era esse material?
Bom... Ele começa com uma pergunta: O que é Arqueologia? A ideia era fazer a criançada pensar um pouco e claro vinham respostas como dinossauros, aventuras, que cercam o imaginário de várias pessoas. E para nossa surpresa algumas poucas sabiam o que era e conseguiram colocar isso de forma bem clara em especial uma menina de óculos brancos a nossa direita. Dai mostramos algumas figuras que continham diversos aspectos clichés sobre nossa profissão personagens de filmes, games, animação, dinossauros etc. Seguida da seguinte frase “Isto não é Arqueologia” partindo para explicar o que é Arqueologia. Deixar claro que eles eram ótimos a reação deles era muito boa. Era como se finalmente algumas das coisas que estavam sendo ensinadas em aula fizessem sentido a partir deste ponto.

Começamos a falar como trabalha o arqueólogo, onde trabalha. Falamos também sobre a divisão de pré-história e história aqui no Brasil a partir de uma perspectiva mais clássica do assunto. E sobre Arqueologia Brasileira. Das diversas áreas da Arqueologia como; Arqueologia Pré-Histórica, Histórica, Ambientes Aquáticos (grande interesse em como se escreve em baixo d'água), da Arquitetura, Bioarqueologia (falamos de Luzia o que intrigou muito a eles), Arte Rupestre e Sambaqui. Depois passamos a mostrar sobre trabalhos realizado em Sergipe numa ideia de reconhecimento de como tudo o que eles estão vendo na apresentação também acontece onde eles moram.

No final Fernanda lascou uma “pedra” na frente deles e mostramos alguns líticos produzidos numa oficina de líticos realizada em Laranjeiras no intuito de mostrar algo mais prático para eles.

Foto Cortesia MAX

APRESENTAÇÃO E MAIS IDEIAS

Tudo na apresentação tinha como foco interessar, estimular e principalmente desmistificar algumas visões que as pessoas tem sobre Arqueologia e Sociedade sem necessariamente falarmos disso. Então a linguagem tinha que ser apropriada, não podia ser algo chato nem com cara de “Blues Clues ou Teletubbies”. Afinal o publico é infantojuvenil então todo cuidado é pouco. Tudo foi bem dinâmico e tudo que perguntávamos eles responderam. Também exploramos muitos exemplos visuais na apresentação pouco texto até para explicar alguma coisa usamos muito “vamos imaginar...” para que tudo ficasse bem claro e não houvesse sombra de dúvidas a eles.

A M.I.S.S.Ã.O.

O post está aqui para poder trocar uma ideia com vocês, mas principalmente demonstrar como que com boa vontade e recursos quase zero qualquer aluno ou grupo de alunos, profissionais, podem fazer um trabalho desses, só é necessário boa vontade e um pouco de “cara de pau”. Lembrem-se que, se nós nos incomodamos com certas visões que as pessoas tem sobre a Arqueologia é responsabilidade nossa educar a população sobre o assunto. Somente a partir de medidas educativas, principalmente as que mexem com a base é que mudaremos certas perspectivas e panoramas aqui no Brasil. Não podemos deixar esse papel único e exclusivamente para as mídias de grandes massas que em sua parte muitas vezes também não entende muito sobre o assunto.

Ao afinal tivemos uma reunião com Geovânia Carvalho a coordenadora da parte pedagógica do MAX e fomos convidados para o nosso próximo desafio. Fazer uma feira sobre Arqueologia em um Colégio Público. Assim que acontecer postarei está experiência para que vocês possam tentar realizar com o seu grupo. E por favor se você tiver alguma ideia crítica ou quiser dividir alguma experiência com a gente nos escreva para paraarkeologos@gmail.com




Algumas palavras sobre Arqueologia Publica e sua importância por Fernanda Simões.

Cortesia Fernanda Simões.

Agradeço o espaço fornecido pelo Thobias e inicio minha fala declarando que não acompanho as discussões acadêmicas recentes sobre Arqueologia Pública e como não venho de uma formação em licenciatura meus comentários podem soar desatualizados para os entusiastas desse viés da Academia. Entretanto, minha contribuição vem dos trabalhos práticos que realizei através do Grupo de Arqueologia Pública (criado por alunos da UFS em 2011) e na Ação Educativa do MAX, nesse episódio específico.

Para entender as problemáticas que envolvem a realização de uma Arqueologia Pública é necessário relembrar o contexto das exigências que o Governo faz aos Arqueólogos, onde a Portaria 007/88 exige que utilizemos o material produzido de uma pesquisa arqueológica para “fins científicos, culturais e educacionais”. Alguns arqueólogos que trabalham com o licenciamento ambiental devem seguir as normas do IPHAN e realizam pequenas atividades de Educação Patrimonial em diferentes grupos (escolas, associação de moradores, sindicatos, igrejas, etc.). Essas atividades de Educação Patrimonial são resumidas em palestras curtas e pontuais, com o único objetivo de atender as exigências legais.

Nesse ponto vemos a diferença da Arqueologia Pública e da Educação Patrimonial realizada no Brasil. A Educação Patrimonial realizada em contextos de Arqueologia Preventiva tende a ser pontual, curta, superficial, imposta e surda. Alguns pesquisadores até questionam o uso do termo “educação” para as atividades ligadas a Arqueologia, pois remete a uma relação entre um indivíduo que detém o conhecimento e outro indivíduo que não o possui.

Ao lidar com Patrimônio Cultural, assumir que qualquer grupo tenha conhecimento nulo sobre a temática é absurdo! É a mesma coisa que dizer que uma pessoa de fora saberá mais sobre uma determinada região do que os próprios moradores, ou seja, podemos considerar essa abordagem como colonialista.

Então, a pesquisa de um arqueólogo não tem validade, já que o morador de uma área sabe mais sobre ela do que o pesquisador de fora? Não é isso, nem 8 nem 80! Os arqueólogos estudaram para interpretar as sociedades através da cultura material em diferentes contextos e as pessoas que estão inseridas nesses contextos possuem muito conhecimento que virá a construir essa interpretação. Cabe ao arqueólogo ser o responsável por selecionar os discursos para a interpretação do contexto. Assume então a perspectiva de mediador e não de professor.

A Arqueologia Pública traz sua contribuição em atividades expansivas, questionadoras, reflexivas, sustentáveis, etc. O principal ponto está em dialogar com os discursos produzidos por determinado grupo na construção interpretativa.
Para realizar um trabalho de Arqueologia Pública é necessário estabelecer os meios de comunicação entre o pesquisador e a comunidade. Esses meios de comunicação são extremamente variados, podendo ir desde inclusão de pessoas da comunidade nas atividades realizadas, entrevistas, etc. Nesse caso específico, a Ação Educativa proposta pelo MAX surge como etapa inicial para realizar uma Arqueologia Pública, onde toda a Ação foi orientada pelo feedback dos alunos de acordo com os inúmeros questionamentos que recebiam.

As atividades realizadas no Colégio Aplicação basearam-se principalmente em duas propostas: (1) entender que o conhecimento que o público-alvo já possui é válido e necessário; (2) refletir sobre os preconceitos associados a Arqueologia e a Pré-história.
Os preconceitos foram trabalhados por toda a ação, desde a diferenciação entre Arqueologia e Paleontologia até uma discussão sobre “quem confeccionava as ferramentas de pedra na pré-história, homens ou mulheres?” A resposta foi quase unânime: Homens.

Essa resposta veio acompanhada de muita surpresa ao me presenciarem retirar uma lasca de sílex no momento. Aos leitores que não sabiam disso, eu declaro: Sim, mulheres também podem fazer ferramentas líticas! Ao fundo passávamos um vídeo com colegas da UFS realizando lascamento experimental (as pessoas no vídeo eram Virgílio Júnior, Íris Marques, Fábio Telles, Pedro Leonardo Almeida, Luis Felipe Freire e eu).
Como as ações educativas do MAX correspondem a uma nova proposta de se trabalhar Arqueologia e Sociedade, realizamos o primeiro passo ao estabelecer uma linguagem comum entre arqueólogos e público-alvo. Esse primeiro passo será disseminado entre diferentes públicos e então partiremos para a etapa seguinte: a organização de uma feira de Arqueologia.

Contamos com a sugestão de todos nessa nova empreitada.

Fernanda Simões.

FIM

Obrigado você Fernanda. Acho que mesmo não acompanhando tais discussões creio que qualquer um pode concordar com muito do que foi dito. Então gente espero que tenham gostando de mais essa. Parabéns Fernanda pelo excelente trabalho saiba que aqui no Para Arkeólogos você sempre tem espaço garantido.

Valeu galera! Agora mãos a obra.

Para Arkeólogos


domingo, 18 de agosto de 2013

Sem profissionais, Iphan caminha para a falência, diz diretor


Por André Borges | Valor
BRASÍLIA  -  O diretor do departamento do patrimônio material e fiscalização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Andrey Rosenthal Schlee, fez uma crítica contundente à situação do órgão público onde ele próprio atua.
Em audiência realizada pela Comissão de Minas e Energia da Câmara, Schlee disse que o órgão não tem capacidade para lidar com o volume de demanda por conta de licenciamento ambiental de obras de infraestrutura. O Iphan é um dos órgãos de anuência de licenciamento, assim como a Funai e a Fundação Palmares. O órgão que licencia é o Ibama.
“Hoje chegamos a uma situação extrema. Temos mais vagas não ocupadas do que funcionários efetivos. Profissionais vão se aposentando, o Ministério da Cultura não tem plano de carreiras. Temos cada vez mais atividades e cada vez menos profissionais para realizar esse trabalho”, disse Schlee, durante a audiência.
Segundo o diretor do Iphan, o órgão conta com 38 profissionais para cuidar das pesquisas em todo o país. “Isso mostra a nossa precariedade. Para piorar a situação, vamos perder 11 desses pesquisadores porque são temporários, daí a instituição entra em falência por falta de quadro. Falta de gente, disposição de mudar e substituir quantidade por qualidade”, comentou.
O assessor de licenciamento da Funai, Ricardo Burg, afirmou que a fundação tem hoje 17 profissionais para cuidar dos processos de licenciamento que chegam à fundação. A Comissão de Minas e Energia debate o processo de licenciamento ambiental aplicado sobre o setor elétrico.

Link:http://www.valor.com.br/brasil/3233190/sem-profissionais-iphan-caminha-para-falencia-diz-diretor

Um norueguês contra a história

Navegação

Depois de seis décadas, história da Expedição Kon-Tiki, que tentou contestar teorias sobre colonização da Polinésia, volta às telas dos cinemas

Paola Bello
Quando o pesquisador norueguês Thor Heyerdahl (1914-2002) lançou ao mar, em 28 de abril de 1947, uma jangada inspirada em embarcações primitivas, poucos acreditaram que as cordas que mantinham suas tábuas unidas seriam suficientemente fortes para conduzir com segurança seus seis tripulantes e um papagaio por mais 8.000 quilômetros mar adentro. Para Heyerdahl, muito além de um atestado de perseverança, os 101 dias de expedição entre a costa do Peru e o Taiti seriam uma prova irrefutável de sua teoria de que teriam sido os pré-incas, e não os asiáticos, os colonizadores das ilhas da Polinésia.

Da experiência de Heyerdahl há mais de seis décadas nasceu um livro, escrito pelo próprio navegador. A expedição Kon-Tiki (José Olympio Editora, 280 pg.) foi traduzida para mais de 70 idiomas e superou a marca de 50 milhões de exemplares vendidos. A expedição também gerou um documentário, filmado por Heyerdahl e seus cinco companheiros de viagem, vencedor do Oscar em 1950. Em 2013, a primeira experiência de Heyerdahl na busca por comprovações práticas de suas teorias ganhou novamente os holofotes com uma nova versão para o cinema, que reconstitui com atores a incrível viagem pelo Oceano Pacífico. Indicado desta vez ao Oscar de melhor filme estrangeiro, Expedição Kon Tiki perdeu o prêmio, mas o filme, que estreou nos cinemas brasileiros na última semana, consegue retratar a ousadia de um pesquisador cuja motivação era questionar as teorias já reconhecidas pela comunidade científica.

Biblioteca

A expedição Kon-Tiki

A bordo de uma jangada, o cientista Thor Heyerdahl tentou provar sua tese sobre a colonização da Polinésia. Neste livro, ele conta como  conseguiu sair do Peru e viajar 8.000 quilômetros em 101 dias rumo a uma nova teoria.

Autor: HEYERDAHL, THOR
Editora: JOSÉ OLYMPIO
As evidências do norueguês — Embora as teorias que tratam da colonização da Polinésia apontem para diferentes origens, todas defendem que os desbravadores do conjunto de ilhas saíram de algum lugar da Ásia. A tese de Heyerdahl surgiu dez anos antes da expedição Kon-Tiki, quando o pesquisador passava a lua de mel na ilha de Fatuhiva, no Pacífico. Da viagem exótica resultaram alguns vidros com insetos para estudos e a decisão de trocar a biologia pela arqueologia. Depois de um ano passado na ilha, não restavam dúvidas à Heyerdahl: as similaridades arqueológicas, linguísticas e até físicas dos habitantes do Pacífico com os sulamericanos não podiam ser mera coincidência.

A região da Polinésia é formada por um conjunto de ilhas no Pacífico que vai do Havaí, ao norte, à Nova Zelândia, no sul, e de Samoa, no Oeste, à Ilha de Páscoa, no Leste. As primeiras habitações na região são datadas do ano 500, e há evidências de que uma segunda leva de migrantes chegou à Polinésia por volta de 1.100, antes dos navegadores europeus. Essas levas de desbravadores geraram questionamentos quanto à origem, e foram elas que inspiraram o norueguês Heyerdahl a apostar que os ameríndios descobriram a rota para lá muito antes dos asiáticos.

Uma das provas arqueológicas usadas por Heyerdahl é que estes colonizadores ainda utilizavam artefatos primitivos, feitos de pedra lascada, bastante diferente das ferramentas encontradas na época no Velho Mundo. "Apesar da inteligência e da assombrosa cultura, esses navegantes trouxeram consigo um tipo de machado de pedra e vários outros instrumentos característicos desse período, e os espalharam por todas as ilhas em que se estabeleceram", afirma Heyerdahl em seu livro. "Não havia civilização alguma no mundo que ainda estivesse no nível da Idade da Pedra nos anos 500 ou 1100 da nossa era, exceto no Novo Mundo", completa.

Outra evidência utilizada em sua teoria constava nas similaridades entre as esculturas e as construções em pedra encontradas na Polinésia e no extinto Império Inca. "Ali (no Peru) vivera um povo desconhecido que havia fundado uma das mais estranhas civilizações do mundo, até que, subitamente, esse povo desapareceu, como que varrido da face da Terra. Deixou enormes estátuas de pedra semelhantes a seres humanos, que faziam lembrar as de Pitcairn, as das ilhas Marquesas e de Páscoa, e imensas pirâmides construídas em degraus como as do Taiti e de Samoa", descreve Heyerdahl.

Há registros que mostram que, nas ilhas da Polinésia, eram cultivadas algumas plantas típicas da América do Sul, como a batata doce e a cabaça. Por outro lado, ossos encontrados em sítios arqueológicos nos antigos impérios sulamericanos provam a presença de galinhas domesticadas, originárias da Polinésia, antes das grandes navegações. Para Heyerdahl, eram mais do que coincidências.
A prova final veio quando ele ouviu, já no final de sua lua de mel, a lenda do deus tribal polinésio Tiki, e viu nela incrível semelhança com as crenças ameríndias. O rei-sol, venerado pelos incas peruanos, chamava-se Virakocha, mas também era chamado de Kon-Tiki ou Illa-Tiki, que significa Sol-Tiki ou Fogo-Tiki. Ele era o sacerdote que os "homens brancos" citados pelos incas veneravam, e ao qual foram dedicadas as atuais ruinas nas margens do lago Titicaca. Neste local, acreditava-se que os homens brancos foram atacados por outros povos e trucidados, mas Kon-Tiki e seus companheiros mais próximos conseguiram fugir pelo Oceano Pacífico. "Eu já não tinha dúvida de que o deus-chefe branco Sol-Tiki que, segundo os incas, havia sido expulso do Peru para o Pacífico pelos pais destes, era idêntico ao deus-chefe branco Tiki, filho do sol, a quem os habitantes de todas as ilhas orientais do Pacífico reconheciam como o primitivo fundador da raça", declara em seu livro. E, em homenagem a este deus, cuja lenda comprovaria sua teoria, Heyerdahl batizou seu barco e sua expedição de Kon-Tiki.
Cientista à bordo — O norueguês tinha a teoria, mas lhe faltavam provas. Depois de ter sido recusada por todas as publicações científicas que procurou, a tese, escrita ao longo de dez anos, tendia ao esquecimento. Foi então que Heyerdahl resolveu, ele mesmo, confirmar sua tese. Em um mês, viajou para o Peru, recrutou cinco aventureiros, e juntos construíram uma jangada de pau-de-balsa, madeira típica da região. "Nem um único prego, cavilha ou cabo de arame foi usado em toda a construção", afirma em seu relato.

Sobre os nove troncos amarrados com corda artesanal, foi posta uma cobertura de taquaras, amarradas à jangada e cobertas com esteiras soltas de bambu trançado. "No meio da jangada, mais perto da popa, erguemos uma pequena cabana de bambu com paredes também de bambu e telhado de lascas de bambu, com folhas de bananeira encaixadas umas nas outras, como telhas", descreve em seu livro.

E foi nesta embarcação, réplica fiel das jangadas usadas havia mais de 1.000 anos na região do Peru, que Heyerdahl e sua equipe deixaram, no dia 28 de abril de 1947, o porto de Callao. Na embarcação, não existiam remos nem motores, apenas uma vela. A intenção era provar que, se a jangada seguisse à deriva, levada pelo vento e pelas correntes marítimas, os seis chegariam à Polinésia. E chegaram. Depois de 101 dias e 8.000 quilômetros navegados, atracaram nos recifes de corais de Raroia, no Taiti. A possibilidade do caminho pelo mar estava provada. A certeza da colonização sul-americana da Polinésia, ainda não.

Saiba mais

THOR HEYERDAHL
Nascido em 1914, em Larvik, na Noruega, Thor Heyerdahl começou a estudar Geografia e Biologia na Universidade de Oslo em 1933. Em 1937, fez sua primeira viagem à Polinésia, onde morou, por um ano, como nativo na ilha de Fatuhiva, no arquipélago de Marquesas. Foi neste período que começou a desenvolver sua teoria de que a colonização da Polinésia poderia ter sido feita por ameríndios, em especial devido às similaridades arqueológicas e às correntes favoráveis do mar e dos ventos. A expedição Kon-Tiki foi a primeira de suas aventuras. Realizada em 1947, levou 101 dias e 8.000 para ser finalizada. Desta jornada, foi publicado um livro e lançado um documentário em vídeo, vencedor do Oscar de melhor documentário em 1951. No ano seguinte, Heyerdahl organizou a primeira expedição arqueológica para Galápagos e, entre 1955 e 1956, esteve à frente das primeiras escavações arqueológicas na Ilha de Páscoa. Entre 1969 e 1970, cruzou o Oceano Atlântico a bordo de um barco de papiro e, em 1978, sua expedição Tigris cruzou o Índico em uma embarcação de junco. Morreu em 2002, aos 87 anos, de câncer no cérebro.

Fonte: The Kon-Tiki Museum
Contestações — Ao mesmo tempo em que a empreitada de Heyerdahl e seus cinco companheiros de viagem chamou a atenção para outras hipóteses de povoamento da Polinésia, as teorias tradicionais de colonização por asiáticos ganharam fortes aliados. "Nos últimos 30 anos, em especial, vemos uma explosão de novos dados relacionados à arqueologia, linguística e bioantropologia, com interpretações sobre as antigas questões de quando e como os povos entraram no Pacífico e conseguiram descobrir e colonizar praticamente cada uma de suas centenas de ilhas", afirma o professor de antropologia e diretor do Laboratório de Arqueologia Oceânica da Universidade da Califórnia em Berkeley, Patrick Kirch, em seu artigo Peopling of the Pacific: A Holistic Anthropological Perspective.

Nascido no Havaí, Kirch dedicou grande parte de sua carreira ao estudo dos indícios históricos e arqueológicos da Polinésia, buscando a integração com registros linguísticos e bioantropológicos. Segundo ele, uma das evidências de estudo mais consideráveis é a presença de uma série de objetos cerâmicos chamados de Lapita, encontrados na região entre Nova Guiné e Bismarck. Embora existam estudos que sugerem que a Lapita tenha sido desenvolvida localmente, há vários indícios que apontam que ela foi introduzida na região a partir da Ásia.

Algumas das teorias defendidas por Kirch batem de frente com o que foi proposto por Heyerdahl. Enquanto o norueguês defendia como evidências da colonização sul-americana a existência de batata doce e babaça na Polinésia, o havaiano defende o oposto. "A maioria dos arqueólogos nunca levou as ideias de Heyerdahl à sério sobre a chegada nos ameríndios ao Pacífico nos tempos pré-Colombo. Entretanto, a proposição reversa — que os polinésios navegaram para as costas da América do Sul, fazendo contato com as populações de lá — parecem cada vez mais prováveis, e têm provocado debates recentes", defende Kirch em seu artigo.
A batata doce, por exemplo, era cultivada em grandes quantidades na parte leste da Polinésia, em especial na Nova Zelândia, Havaí e Ilha de Páscoa, antes dos primeiros contatos com os europeus. "É inteiramente plausível que ao menos uma viagem de canoa rumo à América do Sul conseguiu estabelecer contato e retornar com tubérculos de batata doce, que acabou entrando no complexo de horticultura da Polinésia", defende Kirch. "O nome polinésio para batata doce, kuumara, é, quase sem dúvida, um empréstimo de algum dialeto sulamericano onde o termo para a plantação é kumar ou alguma variante similar", completa. Para ele, a cabaça, presente nas Américas há mais de 9.900 anos, seguiu o mesmo rumo.

A presença da galinha na América do Sul antes de Colombo, para Kirch, é outra evidência das navegações polinésias. "Há registros de ossos de galinha na região do El Arenal, na parte sul do Chile, uma evidência do contato dos polinésios e introdução da (espécie) G. gallus", ressalta. "A data reportada, estimada entre 1321 e 1407, coincidiria com o fim do período extensivo de viagem dos polinésios, mas certamente é anterior à ocupação espanhola."

Questionamento genéticos — Para além das evidências arqueológicas, Kirch e sua equipe também recorreram à genética para tentar colocar um ponto final nesta discussão. Segundo Kirch, uma das principais descobertas neste campo é que tanto polinésios quanto ilhéus do sudeste asiático compartilham uma característica bastante incomum: deleção de nove pares de base no DNA mitocondrial. Esta descoberta reforça a teoria de colonização da região a partir da porção sudeste da Ásia.

Mesmo com esta evidência, os noruegueses não se renderam facilmente. Outro pesquisador se dispôs a aprofundar os estudos do conterrâneo Heyerdahl. Desde 1971, o imunologista Erik Thorsby busca compreender de onde, afinal, surgiram os polinésios. Suas investigações, como se pode prever, começaram pelos escritos de Heyerdahl.

"Meu interesse começou quando li alguns trabalhos de Thor Heyerdahl e combinei com meu conhecimento, como imunologista, sobre o complexo HLA (Human Leukocyte Antigens - em português, Antígenos de Histocompatibilidade Humano), um complexo de genes que se tornaram uma importante ferramenta de investigação antropológica", explicou o pesquisador em entrevista ao site de VEJA.

Sem ter a resposta para seus questionamentos, Thosrby e sua equipe retornaram à investigação das mesmas amostras em 2006, já com recursos e equipamentos mais desenvolvidos. E só então começaram a ter resultados satisfatórios. "Estas investigações de genética molecular demonstraram, pela primeira vez, alguns traços genéticos antigos de ameríndios em habitantes da Ilha de Páscoa. Não conseguimos estabelecer de onde eles vieram primeiro, exceto que os resultados promoveram evidências muito fortes de que deve ter ocorrido antes dos comércios de escravos peruanos em 1860", comemora.

As investigações de Thorsby também sugerem, mas não provam, que a época da chegada dos ameríndios na Polinésia aconteceu antes do descobrimento da região pelos europeus, em 1722, mas que também foram depois que as ilhas estavam habitadas. "Atualmente, acredito que os primeiros habitantes da Polinésia vieram do oeste, por exemplo, do leste da Ásia", afirma. "Os resultados de nossas investigações são completamente compatíveis e suportam esta ideia. Se foram ou não sul-americanos os primeiros a chegar lá, ainda é cedo para concluir", completa.

A conclusão certeira pode ser alcançada em breve. "Para responder com mais exatidão quão cedo os ameríndios chegaram à Polinésia, precisamos investigar o DNA de antigos ossos na região. Já estamos fazendo estas investigações, mas os resultados não estarão disponíveis antes do final deste ano", afirma Thorsby.

De uma coisa, o segundo norueguês não tem dúvida: Heyerdahl pode ter errado, mas não completamente. "Sua teoria, mesmo que muito controversa, levou a um enorme interesse na área. Sem Heyerdahl, (a investigação das origens dos polinésios) poderia nunca ter começado, ou começado muito mais tarde", destaca. "Entre suas maiores contribuições está ter mostrado ao mundo que os oceanos nunca foram barreiras, mas caminhos."

Link:http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/um-noruegues-contra-a-historia

Iphan fará debate sobre políticas públicas e patrimônio histórico


17/08/2013 08h10 - Atualizado em 17/08/2013 10h37

'Balaio do Patrimônio 2013' será realizado de 19 a 23 de agosto, em Belém.
 

Evento é em comemoração ao Dia Nacional do Patrimônio Histórico.

Do G1 PA

 Igreja Sé Belém Catedral Metropolitana Belém Pará (Foto: Paula Sampaio/O Liberal) 
Catedral Metropolitana Belém, na Cidade Velha,  é
patrimônio histórico de Belém. (Foto: Paula Sampaio
/O Liberal)

Em comemoração ao Dia Nacional do Patrimônio Histórico, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Pará (Ipham), realiza de 19 a 23 de agosto, o Balaio do Patrimônio 2013, em Belém. O objetivo do evento é informar e fomentar o debate sobre as políticas públicas na área do patrimônio histórico e artístico nacional. A participação do público é gratuita e as inscrições estão abertas no site do Iphan.

O Balaio vai propiciar momentos de diálogo em torno de projetos públicos e da sociedade civil que estão contribuindo para a proteção, salvaguarda e valorização do patrimônio cultural. Este ano, a temática está centrada nas possibilidades e nos desafios na captação de recursos e realização de projetos.

O evento é voltado para gestores, técnicos, profissionais, docentes e discentes que atuam em áreas relacionadas ao patrimônio cultural e sociedade civil interessada nas temáticas abordadas no evento. Na ocasião, serão apresentados tanto os meios para obtenção de recursos quanto alguns instrumentos de gestão e identificação de bens patrimoniais e ações que tenham sido efetivadas por meio do acesso a esses recursos públicos e privados de fomento à cultura.

Durante as palestras com pesquisadores das áreas “Patrimônio Arquivístico”, “Patrimônio Cultural Quilombola” e “Patrimônio Cultural Indígena”, os participantes terão a oportunidade de compartilhar informações e reflexões. Os municípios que integram o PAC Cidades Históricas também apresentarão ações e projetos na área do patrimônio realizados em Afuá, Aveiro, Belterra, Belém, Bragança, Cametá, Óbidos, Santarém e Vigia.
Link:http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2013/08/iphan-promove-debate-sobre-politicas-publicas-e-patrimonio-historico.html

Gravuras rupestres somem de sítios arqueológicos da Amazônia

Tema:Ecologia
Autor: http://www.institutocarbonobrasil.org.br/
Data: 17/8/2013

A arqueóloga Helena Lima, que trabalhou na região do Alto Rio Negro como professora, considera as depredações duplamente graves pois, além de destruir um patrimônio arqueológico, agridem a história e a cosmologia dos povos indígenas que habitam a área.

Em fevereiro de 2011, Helena visitou as rochas do rio Uaupés e não identificou depredação: “Estive no sítio de Itapinima. Ali tem grafismos impressionantes, é um lugar sagrado que fala da cultura de várias etnias. Aliás, toda a região do Alto Rio Negro tem sítios arqueológicos relevantes, embora poucas pesquisas sejam realizadas. As rochas possuem elementos da paisagem e da cultura e apresentam informações valiosíssimas sobre o passado dos índios da região. Se as depredações ou furtos estiverem ocorrendo mesmo é caso para a Polícia Federal investigar ou o Ministério Público Federal e não apenas o Iphan”, alertou.

Para o arqueólogo Raoni Valle, professor do Programa de Antropologia e Arqueologia da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), caso se confirme a depredação, será “mais um lastimável registro recente de vandalismo grave em sítios de arte rupestre no Amazonas”. Ele lembrou que, em março de 2011, o Iphan interditou o sítio arqueológico Gruta do Batismo, em Presidente Figueiredo (a 107 quilômetros de Manaus), após ele e outros arqueólogos identificarem que o painel principal de pinturas rupestres fora destruído.

Em entrevista concedida por e-mail, Valle disse que a diferença no caso do Alto Rio Negro é que ali se trata de uma terra indígena, portanto, um território menos exposto. Segundo ele as gravuras “são realmente muito antigas, indicadores paleoambientais indiretos sugerem que algumas podem ter 3.000 anos ou mais”.

Ainda sem resposta do Iphan

Há pouco mais de quatro meses, no dia 8 de março, a Foirn enviou um documento ao Iphan pedindo medidas de proteção ao local e denunciando a ocorrência de “vandalismos e depredações”. O documento destaca: “Os lugares localizados nas pedras com gravuras, segundo os mais velhos, existem desde a grande viagem da cobra canoa quando a humanidade se gestava. Por razões que desconhecemos, estas pedras vêm sendo alvo de vandalismo e depredação. Assim gostaríamos de solicitar especial atenção e proteção a estes lugares”. A “cobra canoa” faz parte da narrativa dos mitos de origem do povo indígena Tukano, o mais populoso do Alto Rio Negro.

No documento, a Foirn solicita o reconhecimento dos lugares sagrados indígenas como patrimônio cultural, já que são de suma importância para a história dos Tukano, “marcada nas pedras e petróglifos, nos paranás, na foz de rios que são afluentes do rio Negro, em localidades hoje consideradas cidades”. Segundo os indígenas, os lugares “constituem marcos importantes de nossa identidade, da formação e da reprodução de vida da região, pois foi nesses lugares que nossos ancestrais receberam os conhecimentos necessários para que nós, seus descendentes, transformados em gente, pudessem viver”.

Os índios ainda não receberam resposta do Iphan, mas, procurada pela Pública, a coordenadora de Conhecimentos Tradicionais Associados do Iphan, Ana Gita de Olliveira, respondeu por e-mail que soube das “mutilações pelas quais as pedreiras que contém tais desenhos estão passando”. Segundo ela, ao voltar de uma viagem pelo rio Negro, de Manaus a São Gabriel da Cachoeira, realizada em fevereiro e março deste ano, entregou a denúncia à diretora do Departamento do Patrimônio Imaterial (DPI) do Iphan e “nada mais soube do assunto”.

A reportagem procurou o DPI por meio de a assessoria da imprensa do Iphan e durante mais de duas semanas reforçou o pedido de entrevista por e-mail e telefone, sem obter resposta. Também enviou, por email, o documento que a Foirn encaminhou ao órgão federal, mas não obteve resposta da assessoria.

Procurada, a superintendente do Iphan no Amazonas, Sheila Campos, informou que “não havia sido comunicada” da situação envolvendo as gravuras rupestres, mas que, tão logo “o Iphan em Brasília” lhe formalizasse a denúncia, iniciaria os “trâmites para as providências de vistorias na área”.

Geólogo confirma depredação recente

A reportagem apresentou fotografias das rochas que teriam sido depredadas para o geólogo Marco Antônio Oliveira, superintendente do Serviço Geólogo do Brasil (CPRM) no Amazonas, que confirmou que uma parte do afloramento rochoso foi quebrada. Ele disse que é possível atestar a depredação a partir da área mais clara (como se fosse uma mancha branca), o que indica que ocorreu há pouco tempo. “Isto não foi fruto da natureza. Alguém bateu com marretada ou algum outro instrumento para pegar alguma amostra ou levar como suvenir. A gente (geólogos) também trabalha com retirada de amostras, mas são pequenas, que cabem na nossa mão. Pelo jeito, levaram uma placa muito maior, o que não é comum”, disse Oliveira, que já visitou a região do Alto Rio Negro em períodos anteriores.

Oliveira defendeu uma atuação interdisciplinar de proteção do sítio rupestre e a criação de um geoparque que permitiria tanto a preservação quanto a realização de atividades turísticas. “Ali é um local muito relevante. A CPRM poderia fazer um cadastro nos geosítios e a Unesco chancelar, declarando a área como um patrimônio. A CPRM poderia fazer uma ação conjunta com o Iphan”, afirmou.

Link:http://360graus.terra.com.br/ecologia/default.asp?did=35695&action=reportagem

Projeto ferroviário de Londres se transforma em sítio arqueológico

Na quarta-feira, no horário do almoço, enquanto uma multidão de gente passava apressada pela estação de metrô Liverpool Street, Jay Carver examinava uma funda escavação onde apareciam um crânio e os ossos de várias pessoas desconhecidas.

Esses restos mortais são os mais recentes achados de cerca de 400 esqueletos que Carver e sua equipe descobriram nesse local, onde ele espera encontrar ainda vários milhares. Os ossos fazem parte de uma vala comum, um grande cemitério do século XVII que está sendo descoberto graças à construção de uma nova linha de trem que vai passar através do centro da cidade, disse Carver, o arqueólogo-chefe do projeto.



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Crossrail / MOLA

Arqueólogos descobriram nos subterrâneos de Londres o que eles acreditam que era um cemitério de vítimas da peste bubônica, no século XIV.
A chamada rota Crossrail, com inauguração prevista para 2018, vai atravessar o bairro londrino de West End,seguindo para leste até Canary Wharf e mais além. Com um custo de 14,8 bilhões de libras esterlinas (US$ 22,7 bilhões) e incluindo 50 quilômetros de novos túneis, é o maior projeto de construção da Europa.

É também uma das maiores escavações arqueológicas do Reino Unido. Ao atravessar Londres, está revelando partes da história da capital, de cemitérios medievais a ruínas romanas, e até mesmo evidências de que o homem pré-histórico habitava a área. Muitas das descobertas irão para o arquivo e o centro de pesquisas do Museu de Arqueologia de Londres — iniciando também uma corrida para encontrar um lugar adequado para trasladar os restos humanos.

"Ele [o trecho ferroviário] está acrescentando mais detalhes e novas histórias" ao que já sabíamos sobre o nosso passado, disse Carver, que tem 46 anos. A equipe descobriu recentemente o primeiro objeto de ouro do projeto, uma moeda cunhada em Veneza no início do século XVI, que fora perfurada e provavelmente usada como pingente, mas que deve ter se perdido em meio ao lixo despejado no local que hoje é a Liverpool Street.
Os objetos encontrados por essa iniciativa arqueológica, que iniciou seus trabalhos no local há três anos, abrangem um vasto período. Entre os mais antigos: um pedaço de âmbar de 55 milhões de anos descoberto perto de Canary Wharf, no leste de Londres, e ossos de bisões e outros animais pré-históricos que se acredita terem 60.000 anos, encontrados em Paddington, na zona oeste.

Uma das últimas grandes descobertas comprova a elaboração de ferramentas de um tipo de pedra, desde o período Mesolítico até cerca de 10.000 anos atrás. As lâminas e outros objetos feitos dessa pedra, encontrados nas últimas semanas perto do rio Tâmisa, revelam a atividade humana na área numa época em que a Inglaterra estava sendo repovoada após a Era do Gelo. As ferramentas provavelmente eram usadas por caçadores-coletores para pescar peixes com lanças, por exemplo, quando percorriam as terras pantanosas do Vale do Tâmisa, disse Carver.

Houve também uma série de descobertas importantes da Londres romana, cidade criada em meados do século I e que se acredita ser a origem de um assentamento permanente na área. Entre elas: um trecho de uma estrada romana feita de terra, argila e galhos de árvore, junto ao local que hoje é a estação de Liverpool Street, no distrito financeiro da capital inglesa, datando pelo menos do século II.

A equipe descobriu fundações de casas, cerâmicas e moedas, incluindo uma moeda de liga de cobre datando de 134 a 138 D.C., com a efígie do imperador Adriano, e um denário de prata de 220 a 225 D.C.. Também foram descobertas várias ferraduras da era romana, um tipo de sapato que cobria o casco inteiro do cavalo, e não a meia-lua metálica usada hoje. Presume-se que as ferraduras ficavam presas nos sulcos lamacentos da estrada e saíam das patas dos animais que seguiam por ali.

"É um belo instantâneo de uma ocorrência diária no transporte de mercadorias", diz Nicholas Elsden, do Museu de Arqueologia de Londres, que trabalha como gerente de projetos da Crossrail na obra de Liverpool Street.
Uma das descobertas mais destacadas foi a de uma vala que se acredita ter sido um cemitério em massa para vítimas da peste bubônica, logo ao norte das muralhas medievais da cidade, em Charterhouse Square. Sabe-se que a área foi usada para enterros desde 1348, quando a peste se espalhou rapidamente por toda a Europa e dizimou até um terço ou mais da população da Grã-Bretanha. Não há risco para a saúde em desenterrar os ossos agora, pois as bactérias que, segundo se acredita, causaram a peste só podem sobreviver no solo por algumas semanas e os corpos foram enterrados há séculos, disse Carver.

Embora existam alguns registros escritos sugerindo que dezenas de milhares de pessoas podem ter sido enterradas ali no espaço de alguns anos, não há registros anteriores de descobertas de ossos, segundo Carver. Ele e sua equipe descobriram cerca de 23 esqueletos no início deste ano, quando um poço de cinco metros de diâmetro foi cavado no gramado da praça.

Embora ele ainda esteja aguardando os resultados dos testes que confirmarão as datas e o que causou as mortes, Carver diz que os objetos de cerâmica encontrados no local indicam uma data em torno de 1350, e que há outros indícios que sugerem que as pessoas foram vítimas da peste.

A cerca de um quilômetro e meio para leste, em Liverpool Street, os esqueletos que estão sendo desenterrados jazem num local pertencente ao Hospital Bethlehem, asilo para doentes mentais que também ficou conhecido como Bedlam — de onde vem a palavra inglesa que significa tumulto ou confusão. Os registros históricos sugerem que 15.000 pessoas ou mais foram enterradas ali ao longo de um período de cerca de 150 anos.

Na quarta-feira, enquanto os arqueólogos trabalhavam com cuidado para desenterrar o último desvão onde se encontravam ossos, Carver disse que espera achar dezenas de esqueletos prensados de maneira compacta nesse buraco de um metro quadrado, em seu trabalho inicial de escavação. Ele espera descobrir mais uns 3.000 esqueletos quando começarem as atividades arqueológicas mais intensas na obra de Liverpool Street, no final do próximo ano.

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A maioria dos caixões está completamente corroída e há muito poucas lápides. Das poucas que podem ser lidas, uma parece pertencer a um bebê de alguns meses de idade chamado John Bail e outra a uma mulher chamada Sarah Long, ambos mortos no final do século XVII. Os registros sugerem que algumas celebridades podem estar entre os mortos, incluindo o herbalista Nicholas Culpeper.

Entre os muitos desafios para Carver e sua equipe está encontrar um local apropriado para um enterro nos dias de hoje, para onde seja possível transladar os esqueletos exumados. Ele diz ter recebido algumas queixas de pessoas preocupadas em não perturbar os mortos, pedindo que os corpos esqueletos sejam enterrados o mais rápido possível, e alguns especificamente pedindo um enterro cristão. Ele disse que a equipe está seguindo as exigências legais, que incluem ter uma licença para transferir os esqueletos, mas acrescentou: "É uma questão delicada".
Link:http://online.wsj.com/article/SB10001424127887324522504579001362127647086.html?mod=googlenews_wsj

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Outras Arqueologias: Entrevista e comentários

Para a leitura.
Para a leitura.
Saindo um pouco do site Arqueologia Egípcia, aqui estão alguns links interessantes para vocês. O primeiro é uma entrevista que o meu amigo, irmão (de consideração) e também arqueólogo Adriano Santos deu para o blog Para Arkeologos: “Eu quero ser arqueólogo! E daí? Parte II” (http://paraarkeologos.blogspot.com.br/2013/07/eu-quero-ser-arqueologo-e-dai-parte-ii.html).
O Para Arkeologos é editado e escrito pelo o aluno da graduação em Arqueologia da UFS, Thobias Cerqueira.
A segunda sugestão é um texto do Arqueologia e Pré-História (blog no qual também sou autora). Ao final do post em questão tem um ótimo comentário do meu também amigo e Mestre em Arqueologia Luis Felipe Freire: O contexto da Arqueologia Subaquática na Espanha e no Brasil (http://arqueologiaeprehistoria.com/2013/08/05/o-contexto-da-arqueologia-subaquatica-na-espanha-e-no-brasil/).
O terceiro e último link é do site Bitaites, e foi escrito pelo jornalista Marcos Santos. Trata-se do seu comentário acerca do faraó Akhenaton e o programa “Alienígenas do Passado”: O Sol nasce para Akhenaton (Parte I) (http://www.bitaites.org/porreiro-pa/o-farao-akhenaton-e-o-mestre-da-levitacao-capilar-i/).
Dito isto, enjoy! :D

Link:http://arqueologiaegipcia.com.br/aegipcia/2013/08/05/outras-arqueologias-entrevista-e-comentarios/

sábado, 3 de agosto de 2013

CURSO: LEGADO RUPESTRE


14 a 16 de novembro 2013 – Auditório do Quarteirão Leite Alves, CAHL
Ministrantes: Profa Fabiana Comerlato e prof. Carlos Costa
Objetivo: Oferecer um panorama das pesquisas em arte rupestre no Brasil e no Mundo. Caracterizar e reconhecer as Tradições arqueológicas referentes às representações rupestres brasileiras. Discutir os principais problemas teóricos e metodológicos dos estudos em arte rupestre. Avaliar as demandas sociais e científicas em relação ao patrimônio rupestre brasileiro.
Carga horária: 12 horas.
Horários: dias 14 e 15, das 14 às 18 horas e dia 16 (sábado) das 8 às 12 horas.
Inscrições: pré-inscrição através do envio das seguintes informações (NOME COMPLETO, INSTITUIÇÃO, EMAIL) para " reconcavoarqueologico@gmail.com", até o dia 26 de novembro.
Valor da inscrição: doação de 1 livro de histórias (com material resistente e próprio para crianças de 3 a 5 anos). As doações serão encaminhadas para a Escola Paroquial de Cachoeira.
Certificação: Aos participantes que obtiverem o mínimo de 75% de frequência serão conferidos certificados de participação de 12h, emitidos pela Pró-Reitoria de Extensão da UFRB.
Maiores informações: escreva para o email reconcavoarqueologico@gmail.com"


Arqueologia na Caixa Cultural



Publicação: 03/08/2013 10:56 Atualização:


Cerâmicas, cachimbos, figuras votivas e estátuas estão entre as 70 peças arqueológicas do período escravista da exposição Marcas da alma: uma viagem pela cultura afro-brasileira através das marcas corporais. Com palestra do curador Wagner Bornal, hoje, às 19h, a mostra será aberta na Caixa Cultural Recife (Avenida Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife) e fica em cartaz até 29 de setembro.
Serão exibidas dez fotografias de Christiano Jr, que contam a história da presença africana no Brasil através das marcas étnicas no Rio de Janeiro de 1860. As peças da mostra são fruto de mais de 20 anos de escavações em São Sebastião, em São Paulo. Entrada franca.

Link:http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/viver/2013/08/03/internas_viver,454090/arqueologia-na-caixa-cultural.shtml

A arte da antiguidade clássica é tema de palestra na Fundação Ema Klabin

Fundação Cultural Ema Gordon Klabin em

A partir de agosto, a Fundação Ema Klabin, em parceria com o Departamento de História da Arte da UNIFESP, promoverá uma série de palestras mensais gratuitas sobre arte. A primeira delas A arte da antiguidade clássica acontece no dia 3 de agosto, das 10h às 12h e será ministrada pelo doutor em Arqueologia pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, José Geraldo Costa Grillo.
link:http://catracalivre.com.br/geral/rede/barato/a-arte-da-antiguidade-classica-e-tema-de-palestra-na-fundacao-ema-klabin/

Crânio em vasilha é encontrado em sítio arqueológico mexicano


02/08/2013 17h51 - Atualizado em 02/08/2013 17h52

Decapitado era um homem jovem, possivelmente um guerreiro.
Oferenda achada na capital do México tem cerca de 500 anos.

 

O Instituto Nacional de Arqueologia e História do México (Inah) anunciou que uma oferenda de um crânio humano dentro de uma vasilha foi encontrada perto dos restos do templo maior do sítio arqueológico de Tlatelolco, que fica na capital do país.
Segundo o arqueólogo Salvador Guillem, a cabeça é de um homem jovem, provavelmente um guerreiro inimigo do povo local. Pela profundidade em que a peça foi encontrada, estima-se que tenha sido colocada ali há cerca de 500 anos, ou seja, antes da dominação do México pelos espanhóis.

Crânio é de um homem jovem (Foto: Divulgação/Inah)Crânio é de um homem jovem (Foto: Divulgação/Inah)
 

Arqueologia da garrafa

Conforme os pessimistas esperavam, o mistério da garrafa não passou de uma burocrática correspondência à posteridade, datada de 25 de janeiro de 1932, registrando em ata a colocação da estátua de Tiradentes em seu local atual e a existência de outro recipiente num buraco mais embaixo. Por outro lado, os otimistas esperavam encontrar na garrafa do escultor João Turin o mapa do tesouro do Pirata Zulmiro, com o traçado subterrâneo milagroso para as obras do metrô.    
Dias antes da solene abertura da garrafa, a professora e historiadora Cassiana Lacerda já havia advertido ao Fã Clube dos Caçadores da Arca Perdida que tudo não passaria de mais uma ficção arqueológica inspirada no pior do History Channel: “Grande fato e feito cultural. A incrível garrafa parece conter documentos. O que não soa nada incomum, pois de há muito são colocados documentos ligados à obra inaugurada, em recipiente a ser aberto no futuro. (...) Anuncia-se, agora, cerimônia solene da abertura da garrafa, com a presença de testemunhas notáveis, prefeito, representante do IPHAN, etc. Ou é falta de história, ausência de dimensão dos fatos, cujo burburinho começou com o `sumiço´ da estátua para restauro, tudo graças à ausência de uma placa indicativa, falta de assunto, em termos de realizações na área cultural ou, certamente, autopromoção de envolvidos com o `achado´ de Aladim. No mínimo, provincianismo. No fundo, tudo para pegar o embalo da boa repercussão do presente dado ao Papa”.
A professora Cassiana talvez tenha sido uma tanto severa ao julgar os admiradores de Harrison Ford. É bem verdade que o conteúdo da garrafa não teve a tão esperada repercussão junto à comunidade científica, no entanto o evento serviu para os curitibanos ganharem ciência das muitas “cápsulas do futuro” espalhadas pela cidade. Algumas são pequenas garrafas, em Santa Felicidade são garrafões de vinho, outras em caixa de sapatos. As mais importantes são arcas enterradas na inauguração de praças e logradouros públicos, como bem lembrou a professora Cassiana.
Dessas “arcas perdidas”, a mais notável está enterrada na Praça 29 de Março. Inaugurada em 14 de novembro de 1966, no último dia da gestão do prefeito Ivo Arzua (com show de Chico Buarque cantando “A banda”), foi construída na propriedade de Juca Luz, depois passada para a família Mann, num descampado conhecido como Campo da Galícia, onde imperava o glorioso Poty Sport Clube.
O mais notável na inauguração da Praça 29 de Março foi o discurso proferido por um menino prodígio chamado Rafael Valdomiro Greca de Macedo. No dia em que abrirem aquela arca, sem dúvida, lá estará na íntegra o discurso de Rafael. E talvez uma carta predestinando aquele piá para a Prefeitura de Curitiba.

Link:http://www.parana-online.com.br/colunistas/67/98011/

Enterrados e esquecidos

Arqueólogos descobrem misterioso cemitério do século 17 em Recife. Enterrados em uma região inabitada à época, os esqueletos de homens jovens ainda não têm identidade conhecida e levantam variadas hipóteses sobre sua origem.
Por: Sofia Moutinho
Publicado em 01/08/2013 | Atualizado em 01/08/2013
Enterrados e esquecidos
A história por trás do cemitério descoberto ainda não é conhecida. Por enquanto, os pesquisadores se dividem entre as hipóteses de que os esqueletos sejam de judeus, soldados ou homens do mar. (foto: Fundação Seridó)
Trinta e oito esqueletos masculinos estendidos lado a lado sem roupas mortuárias ou artefatos. Foi com essa situação que uma equipe de arqueólogos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Fundação Seridó se deparou ao fazer a escavação preventiva de uma área da favela de Pilar, em Recife, onde será construído um complexo habitacional do governo do estado. A identidade e o grupo cultural dos corpos ainda não foram desvendados pelos pesquisadores, mas suscitam diferentes hipóteses sobre sua origem e a evolução da cidade a partir do século 17.
A maioria dos esqueletos foi encontrada com os braços cruzados sobre o peito, o que indica que o local provavelmente era um cemitério organizado. Os corpos também não apresentam vestígios de roupas. Os arqueólogos acreditam que tenham sido enterrados com uma mortalha de tecido fino que já se degradou.
Matos: “Pela formação da arcada dentária, é muito provável que se trate de caucasianos, de origem europeia”
O achado veio justamente quando os pesquisadores da Fundação Seridó procuravam por um antigo cemitério de escravos que se acredita que tenha existido na região. A descoberta logo suscitou especulações entre a população, mas os pesquisadores ressaltam que ainda é cedo para fazer afirmações sobre quem eram os mortos.
“Temos certeza de que se trata de um cemitério porque estão todos os esqueletos na mesma posição, com crânio e bacia voltados para o leste, e no mesmo nível de profundidade, mas não podemos fazer muitas outras afirmações”, disse a arqueóloga Manuela Matos durante a apresentação do estudo na 65ª Reunião Anual da SBPC. “Pela formação da arcada dentária, é muito provável que se trate de caucasianos, de origem europeia.”
Esqueletos
Foram encontrados 38 esqueletos de homens jovens, 14 deles já estão sendo analisados. (foto: Fundação Seridó)
Uma das possibilidades levantadas é de que o local tenha sido um cemitério de judeus, que são tradicionalmente enterrados sem roupas. A hipótese ganha força por causa de registros históricos que indicam uma grande ocupação de judeus na região em torno no século 17.
Mas existe ainda a chance de se tratarem de trabalhadores do mar ou soldados. A ideia se baseia na grande quantidade de fraturas de ossos que poderiam estar ligadas a ambas as profissões. “Um dos esqueletos tem fratura da clavícula cicatrizada e quatro apresentam escoliose, o que indica que carregavam peso”, disse o bioarqueólogo Sérgio Monteiro, da UFPE. “Outro tem um tumor ósseo na tíbia, provavelmente decorrente de queda e batida, e os dentes apresentam sinais de uso de cachimbo.”
A teoria dos soldados tem ainda a seu favor a ausência de vestimentas, que poderia ser explicada pelo reaproveitamento dos uniformes e pelo fato de os sepultamentos estarem próximos do antigo Forte de São Jorge, construção bélica do século 16.

À margem 

O local onde o cemitério foi encontrado era conhecido como Fora de Portas durante o início do século 17, por ficar além das portas da cidade de Recife. Os arqueólogos e historiadores acreditam que o cemitério seja daquela época porque está em uma camada mais profunda que os alicerces das primeiras casas construídas na região, que liga Recife à Olinda.
Localização
O mapa mostra a localização do cemitério em relação ao local onde ficava a porta da cidade de Recife e o Forte de São Jorge. (foto: Fundação Seridó; modificado de MENESES, José Luis, Atlas Histórico Cartográfico do Recife)
“Esse trecho do bairro não era habitado nos séculos 16 e 17, as casas só começaram a surgir depois de 1680, quando o Forte de São Jorge foi transformado em Igreja”, comentou o historiador Antonio Moura, da UFPE.
Moura chamou a atenção para o fato de não haver registros desse cemitério em documentos da época. O historiador acredita que a memória dos sepultamentos pode ter sido esquecida propositalmente, por interesse de algum grupo. “A memória dos enterros desapareceu em algum momento e o local passou a ter moradias”, apontou.
Os pesquisadores acreditam que a memória dos sepultamentos pode ter sido esquecida propositalmente
Já a historiadora Socorro Ferraz, da UFPE, pensa diferente. Segundo ela, a região era habitada por pessoas pobres, que, sem opções, não se importariam de ocupar o cemitério. “Esse lugar sempre foi ocupado por classes menos abastadas, fora das portas da cidade moravam os pobres, o ‘povo’”, disse. “Os ricos não querem morar onde foi um cemitério, mas, para os pobres, que não têm onde morar, isso não é uma questão.”

À espera de mais dados

As dúvidas ainda são muitas. Mas os arqueólogos esperam obter mais respostas com a datação e a análise do DNA dos esqueletos, que poderão determinar a etnia dos homens e a época em que viveram. Para a arqueóloga que chefiou as escavações, Gabriela Martin, da Fundação Seridó, o caso ilustra bem o fazer arqueológico.
“As pessoas pensam que a arqueologia é isenta por se deter em dados materiais”, refletiu. “Mas, na prática, existem muitos interesses ideológicos e políticos envolvidos na interpretação dos dados.”
A pesquisadora acredita que a comunidade judaica esteja torcendo para que os esqueletos sejam do seu povo. Por outro lado, a comunidade afrodescendente também teria interesse que o cemitério fosse de seus antepassados. “Mas temos antes de tudo um compromisso com a verdade e, para que a subjetividade seja cada vez menor, temos que nos apoiar nas outras ciências, como a química e a física envolvidas nas análises de DNA.”

Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line

Link:http://cienciahoje.uol.com.br/especiais/reuniao-anual-da-sbpc-2013/enterrados-e-esquecidos