domingo, 18 de agosto de 2013

Gravuras rupestres somem de sítios arqueológicos da Amazônia

Tema:Ecologia
Autor: http://www.institutocarbonobrasil.org.br/
Data: 17/8/2013

A arqueóloga Helena Lima, que trabalhou na região do Alto Rio Negro como professora, considera as depredações duplamente graves pois, além de destruir um patrimônio arqueológico, agridem a história e a cosmologia dos povos indígenas que habitam a área.

Em fevereiro de 2011, Helena visitou as rochas do rio Uaupés e não identificou depredação: “Estive no sítio de Itapinima. Ali tem grafismos impressionantes, é um lugar sagrado que fala da cultura de várias etnias. Aliás, toda a região do Alto Rio Negro tem sítios arqueológicos relevantes, embora poucas pesquisas sejam realizadas. As rochas possuem elementos da paisagem e da cultura e apresentam informações valiosíssimas sobre o passado dos índios da região. Se as depredações ou furtos estiverem ocorrendo mesmo é caso para a Polícia Federal investigar ou o Ministério Público Federal e não apenas o Iphan”, alertou.

Para o arqueólogo Raoni Valle, professor do Programa de Antropologia e Arqueologia da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), caso se confirme a depredação, será “mais um lastimável registro recente de vandalismo grave em sítios de arte rupestre no Amazonas”. Ele lembrou que, em março de 2011, o Iphan interditou o sítio arqueológico Gruta do Batismo, em Presidente Figueiredo (a 107 quilômetros de Manaus), após ele e outros arqueólogos identificarem que o painel principal de pinturas rupestres fora destruído.

Em entrevista concedida por e-mail, Valle disse que a diferença no caso do Alto Rio Negro é que ali se trata de uma terra indígena, portanto, um território menos exposto. Segundo ele as gravuras “são realmente muito antigas, indicadores paleoambientais indiretos sugerem que algumas podem ter 3.000 anos ou mais”.

Ainda sem resposta do Iphan

Há pouco mais de quatro meses, no dia 8 de março, a Foirn enviou um documento ao Iphan pedindo medidas de proteção ao local e denunciando a ocorrência de “vandalismos e depredações”. O documento destaca: “Os lugares localizados nas pedras com gravuras, segundo os mais velhos, existem desde a grande viagem da cobra canoa quando a humanidade se gestava. Por razões que desconhecemos, estas pedras vêm sendo alvo de vandalismo e depredação. Assim gostaríamos de solicitar especial atenção e proteção a estes lugares”. A “cobra canoa” faz parte da narrativa dos mitos de origem do povo indígena Tukano, o mais populoso do Alto Rio Negro.

No documento, a Foirn solicita o reconhecimento dos lugares sagrados indígenas como patrimônio cultural, já que são de suma importância para a história dos Tukano, “marcada nas pedras e petróglifos, nos paranás, na foz de rios que são afluentes do rio Negro, em localidades hoje consideradas cidades”. Segundo os indígenas, os lugares “constituem marcos importantes de nossa identidade, da formação e da reprodução de vida da região, pois foi nesses lugares que nossos ancestrais receberam os conhecimentos necessários para que nós, seus descendentes, transformados em gente, pudessem viver”.

Os índios ainda não receberam resposta do Iphan, mas, procurada pela Pública, a coordenadora de Conhecimentos Tradicionais Associados do Iphan, Ana Gita de Olliveira, respondeu por e-mail que soube das “mutilações pelas quais as pedreiras que contém tais desenhos estão passando”. Segundo ela, ao voltar de uma viagem pelo rio Negro, de Manaus a São Gabriel da Cachoeira, realizada em fevereiro e março deste ano, entregou a denúncia à diretora do Departamento do Patrimônio Imaterial (DPI) do Iphan e “nada mais soube do assunto”.

A reportagem procurou o DPI por meio de a assessoria da imprensa do Iphan e durante mais de duas semanas reforçou o pedido de entrevista por e-mail e telefone, sem obter resposta. Também enviou, por email, o documento que a Foirn encaminhou ao órgão federal, mas não obteve resposta da assessoria.

Procurada, a superintendente do Iphan no Amazonas, Sheila Campos, informou que “não havia sido comunicada” da situação envolvendo as gravuras rupestres, mas que, tão logo “o Iphan em Brasília” lhe formalizasse a denúncia, iniciaria os “trâmites para as providências de vistorias na área”.

Geólogo confirma depredação recente

A reportagem apresentou fotografias das rochas que teriam sido depredadas para o geólogo Marco Antônio Oliveira, superintendente do Serviço Geólogo do Brasil (CPRM) no Amazonas, que confirmou que uma parte do afloramento rochoso foi quebrada. Ele disse que é possível atestar a depredação a partir da área mais clara (como se fosse uma mancha branca), o que indica que ocorreu há pouco tempo. “Isto não foi fruto da natureza. Alguém bateu com marretada ou algum outro instrumento para pegar alguma amostra ou levar como suvenir. A gente (geólogos) também trabalha com retirada de amostras, mas são pequenas, que cabem na nossa mão. Pelo jeito, levaram uma placa muito maior, o que não é comum”, disse Oliveira, que já visitou a região do Alto Rio Negro em períodos anteriores.

Oliveira defendeu uma atuação interdisciplinar de proteção do sítio rupestre e a criação de um geoparque que permitiria tanto a preservação quanto a realização de atividades turísticas. “Ali é um local muito relevante. A CPRM poderia fazer um cadastro nos geosítios e a Unesco chancelar, declarando a área como um patrimônio. A CPRM poderia fazer uma ação conjunta com o Iphan”, afirmou.

Link:http://360graus.terra.com.br/ecologia/default.asp?did=35695&action=reportagem

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