Arqueologia – Simpósio divulga descobertas de pesquisas

Da
 esq. p/ dir., a antropóloga e documentarista Delvair Montagner, o 
professor Adilson José Francisco, a arqueóloga Águeda Vilhena, e o 
professor e arqueólogo Denis Vialou: divulgação dos resultados das 
pesquisas na Cidade de Pedra
O município de Rondonópolis sedia, desde
 a noite de ontem (04/09), o I Simpósio Internacional de Arqueologia e a
 18ª Semana de História. Estão sendo divulgados os resultados dos 30 
anos de pesquisas arqueológicas na região da Cidade de Pedra, em 
Rondonópolis. Uma das grandes novidades anunciadas no evento são achados
 que indicam a presença humana na região em cerca de 10 mil anos atrás. O
 evento é uma realização do Departamento de História do Campus de 
Rondonópolis da UFMT, com a parceria do Museu do Homem de Paris (França)
 e da Agropastoril Jotabasso.
As pesquisas na Cidade de Pedra são 
realizadas pela Missão Franco Brasileira, composta por pesquisadores do 
Museu Nacional de História Natural de Paris, do Museu de Arqueologia e 
Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE/USP) e de outras 
instituições brasileiras e estrangeiras. No Simpósio, que ocorre em 
grande parte no anfiteatro do campus da UFMT, participam pesquisadores 
responsáveis pelas pesquisas, assim como estudantes de cursos de 
graduação e pesquisadores das áreas afins.
Em virtude do Simpósio, o Jornal A 
TRIBUNA recebeu ontem alguns pesquisadores participantes do evento. A 
arqueóloga Águeda Vilhena, do Museu Nacional de História Natural de 
Paris, o professor e arqueólogo Denis Vialou, também do Museu Nacional 
de História Natural, o professor da UFMT Adilson José Francisco, 
coordenador do evento, e a antropóloga e documentarista Delvair 
Montagner falaram ao A TRIBUNA um pouco sobre os resultados dessas 
pesquisas.
Conforme Águeda Vilhena, desde janeiro 
de 1983, vem sendo feito um programa de pesquisa anual na região da 
Cidade de Pedra, a partir de um chamado do proprietário da área, diante 
de achados que indicavam a presença de povos pré-históricos. Desde 1984,
 ela lembra que a parceria para as pesquisas na região vem sendo 
estabelecida com a Universidade de São Paulo e o Museu Nacional de 
História Natural de Paris, com resultados muito animadores.
Nesses 30 anos de pesquisas, a missão 
franco-brasileira descobriu um total de 167 sítios arqueológicos, sendo 
158 abrigos rupestres e 09 aldeias (ao ar livre), em uma área de 
aproximadamente 300 km² da Cidade de Pedra. Águeda explica que sítio 
arqueológico é um local onde indica a presença humana no passado. Na 
região foram encontrados vestígios de povos pré-históricos como 
artefatos de pedra, cerâmicas, artes rupestres e carvão fruto de 
fogueira. Poucas ossadas humanas foram descobertas.
Águeda informa que em apenas 02 sítios 
arqueolégicos da Cidade de Pedra foram encontradas ossadas humanas, as 
quais estavam em pequenas urnas funerárias, em um enterro secundário, 
onde há uma seleção dos ossos para o sepultamento. Ela explica que, até 
então, as descobertas datavam vestígios da presença humana nessa região 
entre 5 e 6 mil anos atrás. Contudo, atesta que essa região foi 
intensamente ocupada ao longo dos rios entre 1 mil e 1,5 mil anos atrás.
Dessa forma, Águeda relata que a região 
de Rondonópolis se integra na Pré-História Brasileira Antiga. Não foram 
achados nenhum indício de contato desses povos pré-históricos da região 
com colonizadores, sejam portugueses ou espanhóis. Ela observa que a 
região da Cidade de Pedra foi favorecida para as pesquisas por estar em 
uma área bem protegida. “Já era bem protegida pela natureza, ficou 
protegida pelo proprietário e essa proteção foi reconhecida pelo 
Estado”, diz, lembrando que se trata hoje de uma Reserva Particular do 
Patrimônio Natural (RPPN).
A pesquisadora informou que, ao longo 
desses anos, sempre houve uma parceria com a UFMT, para que os 
estudantes pudessem ir até à Cidade de Pedra, a fim de aprender sobre as
 pesquisas. Além disso, uma equipe da missão franco-brasileira costuma 
promover anualmente uma noite de palestras e conferências junto à 
comunidade acadêmica local. Ela não esqueceu de lembrar que a realização
 do atual Simpósio surgiu do interesse da Agropastoril Jotabasso, onde 
está situada a Cidade de Pedra, em promover um desfecho desses 30 anos 
de pesquisas.
Ao longo desse período, Águeda destacou 
que foram 400 pessoas diferentes e 900 presenças nos trabalhos de 
pesquisas na Cidade de Pedra, com o patrocínio da Jotabasso.
Cidade de Pedra – Intenção é criar um museu com resultados de pesquisas

Vista
 da Cidade de Pedra, em Rondonópolis, onde missão franco-brasileira 
descobriu um total de 167 sítios arqueológicos. No detalhe, algumas 
pinturas rupestres

Vista
 da Cidade de Pedra, em Rondonópolis, onde missão franco-brasileira 
descobriu um total de 167 sítios arqueológicos. No detalhe, algumas 
pinturas rupestres
O professor Adilson José Francisco, coordenador do I Simpósio 
Internacional de Arqueologia, destacou ao Jornal A TRIBUNA que um dos 
propósitos desse evento é provocar a criação de um museu com qualidade 
técnica em Rondonópolis, para que possa dar continuidade aos trabalhos 
de pesquisas arqueológicas na Cidade de Pedra, bem como prestar um 
trabalho educativo e turístico no município. Nesse sentido, destaca a 
necessidade da ajuda do poder público para viabilizar esse projeto.
Em relação às pesquisas realizadas na região da Cidade de Pedra, o 
professor e arqueólogo Denis Vialou, do Museu Nacional de História 
Natural de Paris, atesta que foram tantos os resultados arqueológicos, 
em um sentido amplo, contribuindo para a formação de um conhecimento bem
 detalhado do povoamento milenar da região de Rondonópolis. “Não é 
qualquer lugar no Mundo que possui uma pré-história tão intensa e tão 
antiga. É uma riqueza patrimonial e científica para essa região de 
Rondonópolis e Mato Grosso”, avalia.
Denis Vialou acrescenta que, após tantos anos de pesquisas, pode-se 
dizer hoje como esses povos pré-históricos viviam na região. Ele explica
 que essas pessoas viviam aproveitando intensamente o que a natureza da 
localidade lhes oferecia. Os povos pré-históricos da região viviam da 
pesca, da caça, das coletas, com conhecimentos aprimorados da natureza. 
“Vamos ver que esses homens pré-históricos não eram selvagens, mas 
tinham uma formação social e econômica, deixando testemunhos de um alto 
nível de pensamento e organização simbólica, como exemplificadas nas 
pinturas deixadas nas rochas”, externa.
O arqueólogo testemunha o grau de evolução desses povos pré-históricos 
da região com os exemplos de utensílios usados por eles, como as pedras 
lascadas e polidas. Nesse contexto, as formações rochosas da região eram
 meio abundante para essa produção. A partir dos estudos do carvão usado
 para fogueiras por essas pessoas, ele explica que constata-se que a 
vegetação de cerca de 5 mil anos atrás é a mesma que ocupa a região 
hoje. Os estudos indicam, por conseguinte, que esses grupos conheciam as
 espécies de madeiras mais próprias para uma melhor combustão. “A 
natureza da região produziu para eles uma economia de vida maravilhosa”,
 diz.
Conforme Denis Vialou, é importante notar também as particularidades dos
 grupos que habitavam cada microbacia naquela época. Assim como cada 
cidade hoje se difere das demais, apesar de semelhanças, o pesquisador 
atesta que nenhuma microbacia se parecia com outra. De uma microbacia 
para outra, mudavam-se, por exemplo, os símbolos gráficos, evidenciando 
que cada grupo tinha sua própria organização simbólica.
A antropóloga e documentarista Delvair Montagner dirigiu 02 
documentários sobre as pesquisas da missão na Cidade de Pedra. Esses 
dois filmes serão apresentados na tarde de hoje, durante o Simpósio.
Amanhã (06), o evento desloca-se do campus de Rondonópolis para uma visita técnica aos sítios arqueológicos e áreas de pesquisas na Fazenda Verde, onde está a Cidade de Pedra.
Amanhã (06), o evento desloca-se do campus de Rondonópolis para uma visita técnica aos sítios arqueológicos e áreas de pesquisas na Fazenda Verde, onde está a Cidade de Pedra.
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