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Agricultura já era utilizada por povos nativos de Santa Catarina
Populações Jê Meridional produziam milho, mandioca, feijão, inhame e abóbora 100 anos antes da chegada dos colonizadores
por Globo Rural On-line
Região
de Urubici (SC), hoje maior produtor de maçã, foi habitada por
populações Jê Meridional que já praticavam a agricultura, diz pesquisa
(Foto: Agência Usp)
A descoberta foi revelada por uma pesquisa do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da Usp e muda a idéia de que os habitantes das terras altas da região sul do Brasil eram semi-nômades e viviam apenas da caça.
As análises permitiram interpretar paisagens e compreender a História destas populações, antepassadas dos índios kaigangues e xolengues, além do padrão de assentamento humano dentro da tradição arqueológica Taquara-Itararé.
A maior parte dos 104 sítios arqueológicos mapeados ficam ao longo do curso do Rio Canoas, que corre no meio de um vale largo e plano de cerca de 1000 metros acima do nível do mar. “O rio recebe as águas de vários arroios que percorrem vales incisos e florestados pela mata de araucárias, vindos de nascentes nas zonas úmidas dos campos, por volta de 1.800 m de altitude”, diz Rafael Corteletti, arqueólogo que realizou a pesquisa.
De acordo com Corteletti, as escavações se concentram, principalmente, no Sítio Bonin. “Foram coletados fragmentos de cerâmica contendo restos de alimentos carbonizados”, diz. Essas peças foram analisadas e passaram pelo procedimento de extração e análise de grãos de amigo e fitólitos.
Presença
A presenca Jê no alto vale do Rio Canoas, na região de Urubici, se inicia em um período ecológico marcado pela predominância da vegetação de campos em relação a floresta de araucária,
há mais de 1.500 anos. “Ele é seguido por uma fase de grande expansão
das araucárias, por volta de 1.000 anos atrás, com aumento do número e
dos tipos de sítios arqueológicos, indicando grandes mudanças sociais”,
descreve o arqueólogo. “Também há vestígios de uma fase anterior a presença dos europeus, 600 anos atrás, no Sítio Bonin, e de uma fase em que a implantação de fazendas portuguesas no interior do continente, há 300 anos, desestabilizou a estrutura social e econômica desses povos”.
Vaso de cerâmica analisado indica restos de alimentos como o milho e a mandioca
“Além de criar um cenário onde as populações Jê meridionais são dotadas de uma ampla base alimentar, baseada em plantas cultivadas e coletadas, além da coleta de moluscos, pesca e caça, os dados auxiliam a alterar as proposições tradicionais de que sua agricultura era incipiente e de que a alimentação era baseada quase que unicamente na arboricultura da semente da araucária, o pinhão”.
O arqueólogo observa que a partir dos resultados das escavações será possível dizer que, mais de um século antes da conquista da América, as populações Jê no sul do Brasil desenvolviam aquilo que chama de “economia mista”, onde a agricultura exerce um papel importante de complementaridade a caça, a coleta e a pesca.
“Pode-se inferir que a economia dos moradores do Sítio Bonin, em condições ideais, possibilitava a sua permanência durante todo o ano no planalto”, ressalta. “As variedades modernas de mandioca, milho, feijão e abóbora têm épocas de plantio e colheita que permitem dizer isso, já que esses cultivos acontecem exatamente na primavera e verão”.
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